- (In)decisão

Não grite. Cale a boca. Você não é o centro do universo, ele não gira ao seu redor. Me cansei dos seus joguinhos desse seu jeito de ver o mundo. Seus problemas não são os maiores, sua satisfação não é o mais importante. Seus desejos não se realizarão, nada cai do céu. Esqueça esse egoísmo, esse orgulho maldito. Você é insuportável, desprezível. Você não vive, só existe. Você não é melhor que ninguém, é apenas alguém. Então reveja seus conceitos. Quem você quer ser? O existir ou o viver?

- trancado

Espantalho,
verde e solitário, venho por meio desta, lhe desejar melhoras, faz tempo que não te escrevo, não pense que te esqueci, pelo contrario, está cada dia mais nítido e realçado em meus pensamentos. Lembro perfeitamente do tempo em que passamos sentado na calçada gelada observando os carros azuis - seus preferidos, eu preferia os vermelhos, mas nunca tive coragem de dizer para você - que você tanto gostava. Querido, tenho que confessar que prendi a contar a vida, parece meio difícil de acreditar,principalmente se tratando de uma pessoa que não sabia a diferença entre viver e sobreviver. Conto agora quantas vezes perdi o fôlego por causa de uma paixão, quantas vezes perdi o fôlego graças as cócegas intermináveis de um amigo, conto quantas vezes perdi o fôlego de tanto chorar, quantas vezes perdi o fôlego por ver a sua foto e não tocar em você.
Agora choro por não ter tido coragem de te dizer o quanto te amei em silencio, desenhei sem fim um caminho pelo qual não consegui - por conta do medo - percorrer. Agora me falta o feliz para sempre, o paraíso. Não tenho permissão de me sentir nas nuvens, de sentir calafrios e borboletas no estômago, os clichês foram escondidos e trancados naquela gaveta, a chave procuro e não encontro, acho que você levou contigo. Peço desesperadamente que me entregue, possuo apenas a esperança de ter esperança, pois não caminho mais em inércia, minhas ações refletem meus pensamentos. Atenciosamente,
Qualquer outra paixão.

renato teixeira

exclusivo, inclusão.

Tempo, tempo, tempo, precioso pedaço de papel, escrevo em você minha jornada, amasso jogo fora, mas você não me larga. Maldito tempo, te vi passar varias vezes, enquanto estive sentado na cadeira de balanço, na varanda velha da minha casa, te vi caminhar sozinho por aquelas ruas desertas e sem vida, você tão triste e tão deprimente, comandando a vida de tanta gente. Tempo, gracioso tempo, te vi jogar bola com tantos garotos, te vi dançar com tantas garotas, te vi abraçar senhoras, te vi engordar crianças. Sarcástico você, não? Como consegue viver assim, sendo mau e bom, sendo agressivo e dócil, manipulador. Você consegue controlar a vida de toda essa gente preocupada, atrasada em correria, vivendo em agonia. Pratos quebrados e cachos desfeitos, cabelos ao vento de pessoas que vivem com pressa, arroz queimado, droga.
Amores desfeitos, laços rompidos, brigas solucionadas, tantas coisas, para alguém sozinho cuidar, tanta responsabilidade, seja digno de tal e não magoe pessoas; tristes despedidas são para fortes e não para todos. Tempo, tempo, tempo serás precioso, tempo?

renato teixeira

- inércia

Eu me sufoco sozinho, com um travesseiro de penas transparentes, dentro de um quadrado de vidro plastificado, invisivel. Me sufoco sozinho, com mãos palidas e pés desgastados de tanto caminhas em circulos. Nadando em livros, procurando entender o porquê de você ter me deixado aqui sózinho, sem proteção, sem seus cuidados que me eram tão importantes, cuidados que me deixavam tão bem. Sem a palma da sua mão quente e macia me abraçando na noite gelada, em que os galhos daquela arvore antiga batiam na janela e me assustava, não ligo mais, porque você me ensinou a não ter medo, aparentemente não tenho mais vontade de sentir. Me sufoco no vazio indescritivel, no vacuo da sua mente, no eco das suas palavrãs, no som propagado pelo estalo de seus dedos.
Estou preso nas correntes de barbante que você colocou sobre mim, durante aquele periodo em que eu era apaixonado, elas são tão inocentes, mas com uma força tão grande, ainda me pergunto o que passastes nelas. Vou caminhando em inércia.